Pequenos empreendedores apostam na criatividade e na tecnologia para driblar impactos do coronavírus

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Corte de cabelo em casa, distribuição gratuita de álcool gel e até delivery de colchão estão entre as medidas adotadas por profissionais autônomos e pequenos empresários.


Além dos cuidados com a saúde, a pandemia do novo coronavírus (covid-19) também trouxe muitas dúvidas em relação ao futuro da economia brasileira e incertezas sobre o desempenho dos negócios no país.

Para tentar driblar a crise causada pela doença, o ‘grupo de risco econômico’ do vírus, profissionais autônomos e pequenos empreendedores, usa a criatividade e a tecnologia para continuar oferecendo seus serviços mesmo no período de isolamento social.

Desde o último domingo (22), quando comércios e serviços considerados não essenciais tiveram que fechar as portas em Pernambuco, o restaurante 303 Steaks, localizado no bairro do Espinheiro, na Zona Norte do Recife, passou a investir no serviço de delivery com entrega grátis.

Para se diferenciar de outros estabelecimentos do ramo, o restaurante ainda soma ao pedido um frasco de álcool gel sem custos adicionais. “Estamos nos colocando no lugar do cliente, que, apesar de tudo, quer ter acesso aos serviços, por isso seguimos buscando novas formas de não deixá-los na mão”, afirma Eduardo Mota, 26 anos, um dos proprietários do local, ressaltando que, dessa forma, restaurante, colaboradores e clientes saem ganhando.

Assim como o 303 Steaks, o Bar do Romildo, no bairro do Ipsep, na Zona Sul da capital pernambucana, adotou um sistema de encomendas via WhatsApp para realizar entregas nas casas de seus clientes.

Além disso, apesar das portas fechadas como medida de contenção ao avanço da covid-19, o estabelecimento permite retirada de marmitas no local. “O movimento já vinha caindo bastante. Agora, com a pandemia, a coisa complicou, e o delivery foi a solução que achamos para sobreviver”, conta Romildo Oliveira, 59, lembrando que, antes da crise, seu bar vendia cerca de 70 quentinhas por dia e que agora a média é de 25.

As entregas em casa, antes mais adotadas por restaurantes ou farmácias, se estenderam para outros empreendimentos e chegaram a salões de beleza e até ao comércio de colchões.

Trabalhando no ramo há 16 anos, o microempresário Carlos Guedes, 59, decidiu inovar seu atendimento e aceitar compras por meio das redes sociais. Dono de uma pequena loja no bairro de Casa Amarela, na Zona Norte, ele também entrega os colchões que vende na residência dos consumidores. “O delivery tem sido minha rota de fuga dessa crise, mas, ainda assim, está sendo pouco”, diz ele, creditando o baixo de desempenho da nova modalidade de venda ao medo das pessoas de empresas desconhecidas.

No setor de serviços, os salões de beleza também apostam em novas práticas para vencer os problemas na economia causados pelo novo coronavírus. Dona do Trois Beauté, em Boa Viagem, a empreendedora Gabriela Percínio, 30, montou kits de beleza para suas clientes.

Os produtos, que são pedidos antecipadamente e entregues em domicílio, são embalados junto a recomendações para sua aplicação. “Também estamos descontos para quem está comprando serviços como aplicação de mechas antecipadamente”, afirma Percínio,frisando que as consumidoras terão até cinco meses após a reabertura do salão para usar o serviço.

No ramo da beleza, há ainda quem se disponha a visitar os fregueses e realizar serviços de corte de cabelo longe do local de trabalho. Este é o caso de Demétrio Andrade, proprietário de uma barbearia no Mercado de Boa Viagem. “Nós temos a capacidade de levar tudo higienizado para casa do cliente, além de não precisar usar a eletricidade do local, porque nossos materiais são recarregáveis”, diz Andrade, ressaltando que muitas pessoas já estão procurando o serviço.

Importante para abastecer supermercados e feiras ao ar livres, agricultores de Pernambuco têm se adaptado com facilidade ao momento que atravessamos. O pequeno produtor agroecológico, Amadeu Petroni, 55, conta que há 13 anos trabalha no setor, mas só em meio à pandemia da covid-19 viu sua renda cair cerca de 60%. “A perda nas roças está muito grande, mas se não fizermos também a nossa parte, não venceremos esta batalha”, argumenta ele, reforçando as orientações médicas de isolamento social e ressaltando que associações agroflorestais têm criado grupos em redes sociais para atender aos clientes, que encomendam os produtos e buscam eles no horário marcado em feiras do Grande Recife. “Assim, cuidamos das nossas rendas e saúde, evitando aglomeração”, pontua.

Só criatividade não é suficiente, diz Sebrae

Como forma de apoiar os donos de pequenos negócios em razão da instabilidade econômica causada pela pandemia do novo coronavírus, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) lançou um guia com dicas de gestão de financeira. O documento traz orientações sobre como os donos de pequenas empresas podem fazer o controle das finanças mais preciso diante de complicações nos negócios no atual cenário.

Com o avanço da covid-19 no país, os pequenos negócios têm sofrido com a redução na produção, no número de clientes e também com o faturamento menor. Segundo o Sebrae, o guia traz algumas dicas para acelerar o “enfrentamento do problema e, assim, possibilitar a retomada da agenda de desenvolvimento da economia”.

Entre as dicas estão fazer uma previsão das despesas para um período de dois ou três meses. Se possível, identificando os valores de acordo com o tipo de despesas; evitar fazer alguma despesa que não seja extremamente necessária para a continuidade dos negócios; negociar as despesas com maior impacto no negócio, bem como negociar também as despesas bancárias, buscando um prazo maior para o pagamento dos seus compromissos.

A cartilha pode ser acessada no página do Sebrae na internet pelo endereço www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/coronavirus ou no aplicativo da entidade para smartphones e tablets, que pode ser baixado pelo Google Play e Apple Store.

Para o superintendente do Sebrae em Pernambuco, Francisco Saboya, apesar dos esforços dos empreendedores para driblar a crise e dos incentivos do Sebrae, não haverá saída para os pequenos empresários se o governo federal não liberar novas linhas de crédito com condições especiais para este grupo. “Só a União tem recursos disponíveis para isso, e ela precisa socorrer a economia que começa na base da cadeia produtiva”, explica Saboya, apontando que os micro e pequenos empreendedores são a parte mais frágil do sistema e, portanto, a que mais precisa de ajuda.

“O governo precisa criar o ‘SUS da Economia’, porque ela está na UTI. É preciso uma injeção maciça de crédito subvencionado, com juro zero ou com baixíssimas taxas”, conclui.

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