Inovação não pode esperar pela situação ideal, diz especialista dos EUA

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Educadora Lisa Duty veio ao Brasil mostrar projetos desenvolvidos em estados norte-americanos e falou sobre como ajudou a implantar políticas de inovação.


“Não podemos nos deixar envolver na perfeição, esperar quando tudo estiver perfeito. Temos que mudar nossa mentalidade e vamos usar o que temos à nossa disposição hoje. Não espere pelo ‘perfeito’ pois o ‘perfeito’ nunca chega. E essa é a essência da inovação.”

A declaração foi dada por Lisa Duty, a educadora norte-americana e fundadora da consultoria educacional Innovation Partners. Lisa trabalhou com os departamentos de Educação de três estados norte-americanos – Ohio, Rhode Island e Carolina do Sul – para a implantação de escritórios de inovação.

Na semana passada, a especialista passou pelo Brasil, onde discutiu e apresentou os casos nos quais ela trabalhou. Ela participou de palestras e apresentação no Conect-C, a série de encontros para discutir temas relevantes ligados à inovação na Educação, promovidos pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB). Lisa e também participou de uma reunião do Grupo de Trabalho de Tecnologia do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).

Entre os estados norte-americanos com os quais Lisa trabalhou, um deles se destacou por algumas semelhanças com o Brasil: a Carolina do Sul, um estado marcado pela desigualdade, pobreza e uma Educação com índices baixos.

“Frequentemente falamos da Carolina do Sul como sendo dois estados: um que é muito mais para aqueles que têm os meios, os ricos, aqueles podem navegar em um maravilhoso sistema educacional, têm acesso a um ótimo sistema de saúde e assim por diante. E então existe essa outra Carolina do Sul, onde partes da população vivem em pobreza extrema, não há comida na mesa, as pessoas não têm acesso ao sistema de saúde, não podem comprar remédios e o sistema educacional luta para funcionar. E, dependendo de qual pesquisa ou relatório você lê, (o estado) está sempre entre o segundo e nono estado mais pobre dos Estados Unidos”, explica.

Apesar de tudo isso, o Departamento Estadual de Educação da Carolina do Sul conseguiu abrir um Escritório de Inovação para impulsionar recursos e apoio para escolas e distritos que tinham interesse em inovar na Educação. E, Lisa ressalta que, para abrir esse escritório, a agência não obteve mais dinheiro.

“O que eles fizeram foi: foram até o orçamento do Departamento Estadual de Educação e redistribuíram dólares para lançar o Escritório de Inovação, algo que não é fácil. Eles lançaram (o escritório) com US$ 1 milhão, apenas redistribuindo (dinheiro). E, tenho certeza, isso significou fazer escolhas desafiadoras, US$ 1 milhão é bastante! Então podemos dizer com certeza que eles mudaram as prioridades, transformaram a inovação em uma prioridade e isso é muita coisa”, afirmou.

Lisa Duty é do estado de Ohio e também trabalhou junto ao Departamento Estadual de Educação daquele estado. A especialista lembra que foram convocadas reuniões para que todos pudessem aprender, discutir suas preocupações e compartilhar ideias para inovar na Educação de Ohio.

“Para criar um Escritório de Inovação, acredito que Ohio moveu três funcionários (de outros departamentos) e então contrataram um diretor, era um pequeno escritório com quatro pessoas e esse foi o maior tamanho que eles tiveram. Então não acho que tem ser como uma equipe enorme ou uma quantidade enorme de dinheiro. Acho que o necessário são pessoas que são comprometidas com inovação, envolver as partes interessadas, trazer essas pessoas para as discussões e apenas compreender que nenhuma pessoa sozinha é dona da solução para fazer essa mudança que todos nós estamos buscando, entre vários países. É preciso uma coleção de intelectos e recursos, influências e competências, que apenas existem em meio a uma ampla variedade de pessoas interessadas. Você realmente precisa envolver todo mundo”, ressalta.

Infraestrutura e equipamentos

A velocidade de conexão à internet das escolas públicas ainda é baixa, segundo pesquisa TIC Educação 2018, divulgada pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI.br). Um estudo recente mostrou que, em 2018, nas escolas públicas pesquisadas, 5% tinham uma conexão com velocidade de até 999 kbps; 26% contavam com conexão de 1 a 2 Mbps; 33% trabalhavam com velocidade de 3 a 10 Mbps; apenas 12% usavam uma conexão com velocidade de 11 Mbps ou mais e 24% não sabiam.

Lisa Duty conta que, há pouco tempo, os Estados Unidos também tinham problemas parecidos.

“Por muito tempo tivemos discussões sobre professores permitindo que os estudantes usassem seus próprios celulares na sala de aula, porque nós não tínhamos laptops ou equipamentos para todos os alunos. Mas quase todas as crianças tinham um celular. Então havia resistência de alguns professores de deixar usar estes equipamentos, pois eles temiam que os alunos iriam se distrair.”

A educadora lembra que houve uma mudança de mentalidade entre os professores, que começaram a usar essas ferramentas. Ainda não significava uma situação ideal, mas eles começaram a notar o impacto no aprendizado dos estudantes.

“Uma vez que você vê professores usando isso de forma eficaz e você vê os resultados, você não consegue fazer parar, não consegue evitar que se espalhe de sala de aula para sala de aula.  Mesmo que você não tenha a infraestrutura perfeita, com equipamentos todos iguais e coisas assim, não é (a situação) ideal, mas a inovação não diz respeito ao que é ideal. Inovação é sobre o que estamos tentando alcançar, qual é o objetivo de aprendizado e o que podemos fazer para alcançar esse objetivo. E se a tecnologia puder ser uma parte disso, você usa, imperfeita ou não.”

A especialista também conta que, para acelerar a mudança de mentalidade, o que foi feito nos estados onde ela trabalhou foi uma busca por professores inovadores para dar apoio a eles.

“Acredito que sempre vão existir muitos professores que estão na vanguarda, que sempre querem tentar alguma coisa de forma muito inventiva, muito criativa. O que fizemos nos Estados Unidos foi nos concentrar nesses professores que realmente queriam inovar”, diz.

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