Os planos do banco digital N26, o “Nubank alemão”, para o mercado brasileiro

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Início da operação no país ainda não está definido, mas Eduardo Prota, responsável pelo escritório local do N26, diz que a disputa entre bancos digitais ainda está em aberto.


ocê tem conta no banco laranja ou no vermelho? Para quem é cliente do banco digital N26, pouco importa: quem define a cor do ícone do aplicativo que aparece na tela do celular é o próprio usuário.

Pode parecer uma funcionalidade irrelevante para um banco, mas diz muito sobre o N26, que vem sendo chamado de o “Nubank alemão” desde que anunciou os planos de trazer sua conta digital para o Brasil.

A comparação faz sentido. Afinal, o N26 surgiu mais ou menos na mesma época que o brasileiro Nubank, e com uma proposta parecida: oferecer serviços bancários a uma parcela da população que já não se identifica com as instituições tradicionais.

O crescimento do N26 na Europa também lembra o da fintech brasileira. Criado em 2015, o banco digital possui hoje 3,5 milhões de clientes em 24 países. Há três semanas, cruzou o Atlântico e anunciou o início das operações nos Estados Unidos.

É o tipo de cliente que se importa em personalizar a cor do ícone do aplicativo. Desde que permitiu a troca, 70% dos usuários do banco usaram a função. Quem me conta a história é Eduardo Prota, o executivo responsável pelo N26 no Brasil, que será o próximo destino do banco.

O nome do banco de certa forma também tem relação com as cores. Afinal, a inspiração partiu do cubo mágico, aquele famoso quebra-cabeça tridimensional com 27 peças. Ou melhor, 26 se não contarmos a peça do meio, que não se move.

O conceito por trás do cubo mágico é de algo complexo, mas que pode ser resolvido com facilidade por quem conhece a técnica. A proposta do N26 é fazer o mesmo com os serviços bancários. “A gente entende que está transformando o banco em algo que seja fácil para o usuário”, diz Prota.

“Show me the money”

Toda essa história de fintech descolada pode ser legal, mas não será mais novidade para os clientes brasileiros quando o N26 começar a operar por aqui.

Durante a nossa conversa, Prota inclusive se lembrou da piada recorrente de que o banco digital é a nova paleteria mexicana – uma referência aos vários estabelecimentos que vendiam o tal picolé e rapidamente fecharam as portas.

Para enfrentar a concorrência o banco sabe que vai precisar mais do que um discurso bonito e um aplicativo colorido. Tanto que anunciou recentemente uma nova rodada de investimentos, com o reforço do caixa em mais US$ 170 milhões (R$ 640 milhões).

Os investidores que colocaram o dinheiro novo avaliaram o N26 em US$ 3,5 bilhões (pouco mais de R$ 13 bilhões). O valor é menos da metade do obtido pelo Nubank em sua última rodada de captação fechada na semana passada, quando foi avaliado em US$ 10 bilhões.

Quando chega?

Mas quando, afinal, o N26 espera dar início às operações no Brasil? Prota não quis se comprometer com uma data e deu a entender que o lançamento, inicialmente previsto para este ano, pode escorregar para o começo de 2020. Ele sabe, porém, o quanto a questão do tempo é importante.

“Nossa grande oportunidade é criar uma força central escalável, com custos e preços muito menores, e dar uma experiência muito parecida ao redor do mundo.”

De todo modo, há bastante trabalho a ser feito antes de colocar a conta digital para rodar no Brasil. O desenvolvimento inclui a conexão com parceiros como processadoras e bandeiras de cartão. Sem falar que o sistema financeiro brasileiro tem as suas jabuticabas como o pagamento via boletos e o chamado parcelado lojista no cartão de crédito.

A agilidade também será levada em conta na hora de escolher qual o modelo de atuação no país. O banco pode optar, por exemplo, por uma licença de fintech como sociedade de crédito direto (SCD) ou buscar autorização para atuar como instituição financeira plena.

O segundo caminho deve ser o mais provável, até porque no exterior o N26 atua em toda a gama de serviços, incluindo concessão de crédito, limite de cheque especial, investimentos e transferências internacionais.

Três pilares

Com tantas opções disponíveis hoje – e outras que devem chegar nos próximos meses – o que vai levar o cliente brasileiro a abrir uma conta no N26?

Prota diz que os campeões na disputa entre os bancos digitais ainda não estão definidos, mas não vê funcionalidades específicas do aplicativo como diferencial, até porque elas são facilmente copiáveis.

No processo de consolidação desse mercado, o que ele acredita que vai fazer diferença são três fatores. O primeiro é o que ele chama de usabilidade, ou seja, fazer com que o cliente se vincule à plataforma, o que ajuda a proteger o banco das investidas dos concorrentes.

A marca é outro fator que ele defende como fundamental e que ainda não está consolidado no mercado brasileiro. O terceiro é o dinheiro para investir. Nesse último ponto, o executivo do N26 confia nos sócios investidores do banco. Alguns inclusive são os mesmos do Nubank, como a chinesa Tencent.

Quanto vai custar?

Quando se fala em banco, é impossível escapar do tema tarifas. As contas digitais vêm conquistando clientes com o modelo de gratuidade, e o N26 não será diferente.

Já o cliente que desejar mais serviços, como seguros e benefícios das bandeiras de cartão, terá de aderir aos pacotes pagos.

Mais uma vez, o fator tempo deve ser fundamental para determinar o sucesso do N26 em terras brasileiras, segundo Prota. “Minha dúvida é até quando o cliente está disposto a testar coisa nova, porque tenho certeza de que, se ele testar, fica com a gente.” Quem estiver interessado, aliás, já pode se inscrever no site do N26 para entrar na fila de espera para a abertura de uma conta.

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