Veja como recuperar o emprego após a pandemia

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O país ainda convivia com elevados índices de desemprego quando a pandemia do novo coronavírus atingiu em cheio a economia.


Um mercado de trabalho já fragilizado contabiliza agora 12,8 milhões de desempregados. Além disso, outros 34,6 milhões de trabalhadores estão na informalidade.

Conquistar uma vaga diante deste desalentador cenário não será tarefa fácil. Por isso, o EXTRA consultou um time de analistas para ajudar nesta tarefa e apresenta, abaixo, uma seleção de cursos de qualificação on-line.

Segundo especialistas, para voltar ao mercado de trabalho, o candidato terá que se adaptar a passar por processos inteiros de seleção através da internet, o que inclui a procura por vagas, inscrições e, até mesmo, as entrevistas. Paulo Sardinha, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), avalia que o papel das redes sociais dos candidatos será decisivo. Segundo ele, é preciso ter muito cuidado com as postagens. Além disso, o candidato deve aproveitar o tempo em quarentena para melhorar seu currículo através de cursos gratuitos de qualificação a distância, e se preparar para entrevistas em vídeo:

— A dinâmica do processo vai mudar. Será um período de adaptação para candidatos e empregadores. Na entrevista, seja objetivo. É preciso se preocupar com a postura e com a aparência. Ter pontualidade e estar disponível no horário marcado, com acesso à internet e facilidade para conexão— destaca Sardinha: — Tenha uma anotação prévia e procure informações sobre a empresa que está oferecendo a vaga. Por fim, olhe para as redes sociais e o que está postado lá, porque isto vai ser fonte de informação.

Os especialistas são unanimes ao afirmar que a retomada das atividades será em marcha lenta, o que deve desacelerar a geração de novos postos de trabalho. Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, ressalta que a desigualdade no trabalho deve se aprofundar ainda mais nos próximos meses, porque os trabalhadores menos qualificados e com menor acesso a tecnologias são os primeiros a serem dispensados:

— Quem está ficando no mercado de trabalho é quem tem mais qualificação e, evidentemente, os maiores salários — afirma ele.

Professor sênior da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo e coordenador do projeto Salariômetro da Fipe, Helio Zylberstajn avalia que o cenário do mercado pós-crise terá oportunidade para alguns profissionais:

—Quem vai crescer são parcelas da área de comércio voltadas para e-commerce. Os setores de logística e de tecnologia também vão precisar de mão de obra.

O futuro do trabalho

O maior uso de tecnologia pode ampliar a desigualdade no mercado de trabalho. Uma pesquisa realizada no ano passado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), em parceria com a Microsoft, projetava que, num cenário isolado com aumento de 26% na aplicação de inteligência artificial, a ocupação da população diminuiria em 3,87%. Para o pesquisador Fellipe Serigati, responsável pelo estudo, a pandemia está acelerando esse processo.

— A conjuntura acabou obrigando, quase a força bruta, as empresas a adotarem tecnologias que já estavam disponíveis. Isso vai contribuir para uma maior desigualdade entre os mais e menos qualificados e também entre os setores — explica: — Quem conseguir se adequar rapidamente vai levar vantagem.

A empresa de tecnologia Psafe, por exemplo, resolveu adotar o home office pelo menos até dezembro. Para não ter a produtividade afetada, o diretor Marco DeMello acredita ser fundamental oferecer boa infraestrutura para os colaboradores:

— Decidimos custear a internet dos funcionários, além de verificar se todos tinham uma cadeira ergonômica e um computador eficiente. O feedback foi muito positivo. Pequenos gestos vão a uma enorme distância.

Com a instituição do trabalho remoto, os modelos de gestão também devem mudar. Para o diretor do LinkedIn para a América Latina, Milton Beck, haverá aumento do gerenciamento de tarefas por produtividade, em detrimento de uma carga horária rígida:

— No escritório físico, uma parte da obrigação do chefe é ver que você está lá, mesmo que não esteja produzindo muito. Quando vai para casa, há aumento da busca por métricas.

A rede social perdeu cerca de 30% das vagas abertas em comparação ao período anterior à pandemia. Com maior concorrência, Beck acredita que os profissionais com habilidades comportamentais como inteligência emocional, colaboração, criatividade terão mais chances de serem contratados.

O especialista em inovação e transformação digital Walter Longo defende, cada vez mais, os trabalhadores terão que ter posturas mais ativas e serem gestores da própria carreira:

— Todos nós temos que ser CEO daqui para frente. Ou seja, curiosos, porque o que aprendemos ontem não vale mais hoje; entusiasmados, para suportar mudanças com resiliência; e otimistas — explica: — Antigamente, tudo estava mais ou menos decidido, a vida não tinha grandes mudanças, e as pessoas construíam carreira em uma única empresa. Só que, agora, o mundo das múltiplas opções veio para ficar. Temos que esculpir a nós mesmos e ter consciência que sucesso ou fracasso é nossa responsabilidade.

Longo ainda afirma que o trabalho remoto não deverá prevalecer sobre o presencial após a pandemia.

— A pandemia estimulou algumas pessoas a criarem previsões disruptivas, falando por exemplo que shoppings e restaurantes vão ficar vazios, que a educação à distância e o trabalho em casa seriam o novo normal. Acredito que vamos sair da pandemia no mesmo mundo, que já vinha sofrendo mudanças, mas que sofreu uma aceleração — conclui: — A verdadeira revolução não acontece quando se adotam novas ferramentas, mas, sim, novos comportamentos.

Como escolher o curso perfeito para a carreira

Fazer um curso online durante a quarentena pode alavancar o currículo. Mas a especialista em carreiras Susanne Andrade aponta que a escolha deve ser estratégica.

— As pessoas fazem cursos porque o colega indicou, mas não devem. A primeira tarefa antes de escolher um curso é identificar o próprio propósito. A pandemia é uma oportunidade para as pessoas se conhecerem e a partir daí buscarem o que pode ajudá-las a desenvolverem habilidades na direção escolhida — afirma ela, que no livo “O poder da Simplicidade no Mundo Ágil” apresenta a ferramenta “Melhor de mim”, que ajuda a diagnosticar propósitos.

Além disso, ela destaca o que, em geral, os trabalhadores precisam desenvolver:

— No novo mundo do trabalho, as pessoas precisam se desenvolver além de aspectos técnicos: investir na inteligência emocional, na empatia, saber trabalhar em equipe. Essas são coisas que a inteligência artificial não dá conta.

Cursos para fazer na quarentena

FGV

A fundação Getulio Vargas oferece o curso “Introdução à ciência de dados”, uma das áreas em expansão no mercado de trabalho atualmente, com carga horária de 60 horas. Não há processo seletivo. Inscrições podem ser feitas pelo site https://educacao-executiva.fgv.br/cursos/online/curta-media-duracao-online/introducao-ciencia-de-dados.

Estácio

A faculdade liberou gratuitamente cursos de quatro áreas de interesse: Administração, Gestão e Engenharia; Educação; Gastronomia; e Computação. O de “Contabilidade básica”, por exemplo, é ideal para microempreendedores. Os interessados podem fazer suas inscrições pelo site cursosgratuitos.estacio.br.

Instituto TIM

A plataforma de educação chamada TIM Tec com 30 cursos livres, gratuitos e à distância no site cursos.timtec.com.br, como: “Empreendorismo”, “Introdução à criação de sites”, “Edição e tratamento de imagens”, “Desenho de jogos”, “Introdução à lógica da programação”, “Desenvolvimento de back-end”, “Introdução ao uso de banco de dados e SQL”, entre outros. Ao finalizar as aulas e entregar as atividades complementares, o aluno recebe um certificado de 40 horas.

ENS

A Escola de Negócios e Seguros disponibiliza capacitação em “Relações de consumo”, “Gestão de mudanças” e “Iniciação em seguros” no site ens.edu.br/cursos. Ainda há outras opções on-line, porém, de cursos pagos.

Cogna

Por meio da Kroton, o grupo de educação oferece 51 cursos gratuitos para o público em geral e com certificado de conclusão. Alguns deles são: “Democracia / Ética e cidadania”; “Cultura digital”; “Mindset ágil”; “Programação PHP”; “Educação ambiental”; “Coaching em essência”; “Educomunicação, Mídias e Redes Sociais”. Os interessados podem acessar o site ava.aliancapelaeducacao.com.br.

Sebrae

No site loja.rj.sebrae.com.br/loja, há qualificações para melhorar produtividade no home office; sobre desafios da indústria de games; marketing digital; biosegurança para salões de beleza; alta performance em vendas B2B; perspectivas do turismo pós-pandemia, entre outros.

Conquer

A conceituada escola de negócios está oferecendo a plataforma “Zona de Quarentena”, que vai oferecer conteúdos exclusivos produzidos pela edutech. São mais de 40 opções de cursos.

LinkedIn

A plataforma LinkedIn Learning oferece várias capacitações rápidas para os internautas, com duração de meia até três horas. Dentre as oportunidades estão: “Liderança sem autoridade formal”; “Como se comunicar com confiança”; “Como dizer não”; e “Fundamentos de análise de dados”, dentre outras.

Firjan Senai

A lançou mais de 60 cursos on-line, sendo 20 gratuitos e mais de 40 a preços especiais, com interação ao vivo com instrutor. Os preços variam de R$ 29,04 (“Técnica de fermentação natural para produção de pães”) até R$ 194,43 (“Projetos elétricos industriais”). Para realizar as inscrições, basta acessar firjansenai.com.br/cursosonline.

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