Jovem americano faz campanha eleitoral por meio do TikTok

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Não é nenhuma novidade os políticos utilizarem as redes sociais em meio às campanhas eleitorais.



Aqui no Brasil, por exemplo, vários candidatos ficaram mais tempo em suas redes sociais do que propriamente na TV e no Rádio, canais comumente mais usados para a apresentação de propostas, ataques, respostas e por aí vai. E eis que um jovem de 26 anos, candidato ao congresso americano pelo Partido Democrata, decidiu usar a plataforma que mais cresce no mundo, o TikTok, para alavancar sua imagem e iniciar sua campanha.

Joshua Collins é um motorista de caminhão, socialista, de 26 anos e que busca uma vaga no Congresso pelo 10º distrito do estado de Washington, que abrange partes de Olympia, Spanaway e Puyallup. Ele lançou sua campanha em abril do ano passado, depois de assistir ao triunfo da também democrata Alexandria Ocasio-Cortez, do distrito de Nova Iorque, em 2018, que vinha em situação parecida com a sua e conseguiu ser eleita.

“Em 2018, isso foi enorme. Isso mudou tudo. Passamos de ‘devemos fazer isso’ para ‘podemos fazer isso'”, disse Collins, em entrevsta ao The Verge. “Não há como descrever o tamanho do impacto que tive nas comunidades ativistas de base”.

A tarefa de Collins, porém, não é nada fácil. A cadeira da região foi mantida por três mandatos por Denny Heck, um democrata que conquistou as eleições de 2018 por quase 30 pontos de diferença em relação ao seu último rival. Mas em dezembro, Heck anunciou sua aposentadoria, o que permitiu que um novo pleito fosse realizado. Collins ainda enfrenta forte concorrência de candidatos mais convencionais – particularmente a ex-deputada estadual Kristine Reeves e a ex-prefeita de Tacoma, Marilyn Strickland. Apesar dos concorrentes de peso, suas chances têm aumentado consideravelmente. E muito disso graças ao TikTok.

Ser conhecido online tem suas vantagens

Collins também tem uma vantagem crucial sobre Reeves e Strickland: sua relativa fama online. Antes de lançar formalmente sua campanha na primavera (outono brasileiro) passada, Collins tinha cerca de 40 mil seguidores no Instagram. Seus seguidores no Twitter eram muito menores, mas depois de alguns retuítes oportunos de Ocasio-Cortez, milhares de pessoas começaram segui-lo.

Em outubro passado, ele criou uma conta no TikTok e lançou sua conta oficial da campanha @joshua4congress. No momento, a conta tem mais de 26 mil seguidores. Essa presença no Instagram, Twitter e TikTok causou um grande impulso em suas doações e inscrições de voluntários.

Discord virou comitê

À medida que seus seguidores no TikTok aumentavam, Collins começou a pedir para que eles o ajudassem mais diretamente, e criou um grupo no Discord para que todos entrassem. Esse app, muito usado pela comunidade gamer, acabou se tornou o principal centro de voluntários de Collins, permitindo que ele coordenasse campanhas com quase nenhum custo adicional.

Cerca de 1.300 pessoas aderiram ao servidor, geralmente usado para compartilhar memes, notícias, pesquisas eleitorais e realizar pesquisas sobre a oposição. Voluntários em todo o país podem telefonar, enviar mensagens de texto e postar em mídias sociais para apoiar sua campanha por meio desse grupo no Discord.

Embora com menos seguidores, o canal aberto nessa plataforma tem potencial para ser mais poderosa do que o próprio TikTok. Collins apelidou esse grupo no Discord de “um escritório de campanha, mas online” e um “espaço de organização remota” para que os voluntários conversem e inspirem outros jovens esquerdistas para concorrerem a cargos políticos.

“Nosso Discord literalmente dobrou de tamanho desde que comecei a usá-lo, e meu oportuno vídeo do TikTok sobre o abandono de meu oponente era parte de uma enorme campanha de arrecadação de fundos de dois dias”, disse Collins, ao The Verge. “Se não está traduzindo para outras pessoas, elas provavelmente não estão usando direito.”

Como combater a oposição e as trolagens?

A campanha de Collins adotou medidas proativas para garantir que os trolls não fiquem fora de controle. Para entrar no servidor do Discord, você deve preencher um formulário no site da campanha dele. Ele tem moderadores voluntários que mantêm a paz no servidor e “estabelecem democraticamente critérios para coisas como proibições, silenciamentos e uso de canais”. Depois de ingressar no servidor, você é recebido com algumas regras simples, como não criticar pautas LGBTQ e ter um comportamento amigável.

“Quando começamos, o TikTok era um experimento. Mas quando comecei a postar vídeos, era óbvio que havia demanda pelo tipo de conteúdo que eu já estava lançando no Twitter, mas com alguns pequenos ajustes”, disse Collins. De fato, a qualidade e a organização do conteúdo podem – e devem – ser fundamentais na campanha e é por esse caminho que o comitê do jovem tem seguido.

De acordo com o TikTok, os vídeos de Collins receberam mais de 570 mil curtidas, sendo frequentemente vistos, com alguns ultrapassando a marca de 100 mil visualizações. A maioria dos vídeos é simples e está ligada aos tuítes do candidato.

Ideologia e propostas

Collins se diz socialista e é assim que ele se apresenta aos eleitores. Isso, porém, o coloca em um espectro político um pouco mais à esquerda do que os democratas em geral, que costumam, por via de regra (leia-se à frente das câmeras), serem mais moderados quanto a isso.

Entre as pautas de Collins, está a pressão em cima de empresas de petróleo e gás – e do governo – a criarem mudanças, incluindo a nacionalização da produção de energia. Ele também deseja abolir não apenas a Imigração e a Alfândega (ICE), mas também a CIA. Outra ideia do caminhoneiro socialista é cancelar todas as dívidas médicas e liberar todos os medicamentos prescritos.

TikTok “ajuda” esquerdistas?

O TikTok, seu principal meio de campanha, é visto pelo Comitê Nacional Democrata como um risco à segurança não apenas de seus membros, mas também de todo o país. O que pode soar meio contraditório, já que a plataforma tem sido ambiente fértil para candidatos de esquerda em todo o mundo.

Prova disso é que Collins tem recebido um impulso significativo do algoritmo de recomendação de conteúdos do TikTok. As seções de comentários do democrata estão repletas de usuários que escrevem “fyp”. É assim que os usuários informam aos criadores que seus vídeos chegaram à cobiçada página For You do TikTok, um feed interminável de vídeos sob medida para os gostos específicos de um usuário e que é uma fonte enorme de novos seguidores para quem faz isso.

Ninguém sabe exatamente o que é necessário para o seu conteúdo aparecer nesse feed, mas é onde a maioria das descobertas de vídeos e criadores de conteúdo ocorre. A empresa controladora da TikTok, a ByteDance, não discutirá o algoritmo em público, o que dificulta o desenvolvimento de uma estratégia de sucesso para a plataforma.

Não está claro, porém, como o algoritmo se localiza, mas alguns usuários da região de Collins têm reparado que seus vídeos aparecem muito mais do que outros, o que pode ajudá-lo na corrida por uma vaga no Congresso. Isso, porém, não será suficiente para que ele seja eleito. Segundo o senso local, menos de 10% dos eleitores de seu distrito podem ser considerados membros da Geração Z (nascidos depois de 1994), e 90% dos EUA nunca usaram o TikTok. Ou seja, o caminhoneiro terá de fazer, também, um trabalho de campanha convencional: distribuir panfletos, falar em eventos locais, apertar as mãos das pessoas, beijar alguns bebês, fazer selfies e por aí vai.

Embora o TikTok não seja uma garantia para sucesso de Collins, ele o ajuda a arrecadar dinheiro de pessoas fora de seu distrito, que compartilham sua visão, e desejam ver mais pessoas como ele no governo. Pessoas de todo o país que, de outra forma, nunca saberiam sobre sua campanha, doam para ele. Depois que seus vídeos se tornam virais, sua campanha sempre tem um aumento nas doações.

“Eu cresci com a internet e sei como tudo funciona, mas é muito mais do que isso”, disse Collins. “Minha personalidade online sou eu, mesmo como candidato. Não falo como um político, não postei como um, e as pessoas comuns podem dizer a diferença entre uma estratégia de mídia social enlatada e um candidato acessível online”.

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