Facebook e gigantes de tecnologia terão audiência histórica no Congresso dos EUA hoje

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O Congresso dos Estados Unidos será palco de um evento histórico na era da informação nesta quarta-feira: os diretores executivos de Google, Facebook, Amazon e Apple vão depor diante da Comissão Judiciária da Câmara.


O subcomitê antitruste da comissão investiga possíveis abusos anticoncorrência das gigantes de tecnologia em seu predomínio no mercado, que prejudicariam rivais, e também examina o real alcance das leis antitruste atuais e sua correta aplicação ao caso.

Sundar Pichai (da Alphabet, controladora do Google), Tim Cook (da Apple), Mark Zuckerberg (do Facebook) e Jeff Bezos (da Amazon) darão seus depoimentos por videoconferência, devido à pandemia do coronavírus.

Juntas, as quatro empresas têm um valor de mercado que ultrapassa os US$ 5 trilhões, segundo o site MarketWatch, e são alvos de várias investigações nos EUA, não só do Congresso como também do Departamento de Estado, da Comissão Federal de Comércio e de dezenas de estados americanos.

Só os legisladores federais reuniram mais de 1,3 milhão de documentos na investigação, das próprias empresas e de terceiros, além de mais de 385 horas de testemunhos.

Veja o que pesa contra cada companhia:

Facebook

No caso da rede criada por Mark Zuckerberg, seu domínio na publicidade digital levantou questões no Congresso sobre se estaria levando à bancarrota pequenas agências de notícias, diminuindo sua receita publicitária e comprando start-ups menores como uma possível estratégia para eliminar potenciais concorrentes e aumentar seu poder econômico.

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O Facebook já é dono de Instagram e WhatsApp — juntos, eles abrangeriam 5,6 bilhões de usuários, segundo dados do site Statista — e no momento é alvo de um boicote de centenas de grandes anunciantes por falhar em controlar postagens de ódio e desinformação em seu ambiente.

Um novo projeto de lei apresentado no Senado na terça-feira tem como alvo os anúncios direcionados na plataforma, bem como no Google, que usam dados de usuários para personalizar as ofertas digitais. O projeto quer coibir a coleta invasiva de dados por essas companhias.

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Google

A gigante de buscas, por sua vez, é acusada de favorecer seus próprios serviços nos resultados de pesquisas. Não por acaso, foi multada no equivalente a US$ 5 bilhões na Europa por agregá-los ao seu sistema operacional Android. Também se examinará na audiência o predomínio e as práticas anticoncorrências do Google no mercado de publicidade digital, que a empresa lidera.

O Departamento de Justiça solicitou informações até o fim de junho a empresas preocupadas com o abuso do Google por sua influência na publicidade digital, bem como aquelas com dados que poderiam ser usados para apoiar uma queixa formal contra o Google, disseram fontes. E dezenas de procuradores-gerais estaduais, liderados pelo Texas, que também investigam o Google, seriam convidados a se juntarem ao processo federal.

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Amazon

A gigante fundada por Jeff Bezos — que recentemente viu sua fortuna aumentar US$ 13 bilhões num único dia — é acusada de se utilizar de informações de seus vendedores terceirizados para descobrir que novos produtos pode vender diretamente e, assim, prejudicar a competição dessas mesmas lojas independentes em sua plataforma.

Jeff Bezos, da Amazon. Foto: JIM WATSON / AFP

Embora a empresa negue a prática, entrevistas feitas com mais de 20 ex-funcionários da Amazon pelo Wall Street Journal mostrararam que ela ocorre. “Essas informações podem ajudar a Amazon a decidir como precificar um item, quais recursos copiar ou se deve entrar em um segmento de produto com base em seu potencial de ganhos, de acordo com pessoas familiarizadas com a prática”, revelou o WSJ.

Apple

A companhia fundada por Steve Jobs e Steve Wozniak é acusada por concorrentes de manipular a politica de sua loja de aplicativos, a App Store, de modo a limitar como os softwares devem ser projetados e também obrigar os fabricantes a usarem seus próprios canais de pagamento.

Tim Cook, da Apple. Foto: BROOKS KRAFT / via REUTERS

Recentemente, a autoridade europeia anticoncorrência começou a investigar se Apple e Amazon chegaram a um acordo, violando as regras do mercado, para impedir que varejistas eletrônicos fossem incluídos no programa oficial da Apple que vende produtos on-line.

Também estão na mira de reguladores internacionais o uso obrigatório do sistema de compras interno da Apple e suas regras, que impedem desenvolvedores de aplicativos de informar aos usuários de iPhone e iPad sobre opções mais baratas em outros lugares. Rivais como Spotify reclamam da postura da gigante, bem como da taxa de 30% cobrada dos desenvolvedores de aplicativos.

Cinco minutos para perguntas

Na audiência, que começa ao meio-dia de quarta-feira, os 15 membros do subcomitê antitruste da comissão terão cinco minutos para cada pergunta. O deputado David Cicilline, democrata de Rhode Island e presidente do subcomitê, controlará o número de rodadas de perguntas, potencialmente prolongando o questionamento até a noite.

David Cicilline, presidente do subomitê antitruste da Câmara dos EUA. Foto: ALEX WONG / AFP
David Cicilline, presidente do subomitê antitruste da Câmara dos EUA. Foto: ALEX WONG / AFP

— Havia uma percepção de que estas eram grandes empresas americanas que criavam empregos e que deveríamos ter uma abordagem prática e deixá-las florescer — disse Cicilline em entrevista ao New York Times. — Mas há muitos problemas sérios que descobrimos ao longo da investigação que não eram aparentes quando começamos a apurar.

Defesas preparadas

As empresas estão investindo fortemente em suas defesas. Todos os quatro CEOs planejavam ligar para os deputados do subcomitê antes da audiência. Apple e Amazon divulgaram estudos para refutar sua predominância no mercado e quaisquer práticas prejudiciais à concorrência.

O Google afirmou que os mercados de tecnologia de busca e publicidade que ele domina estão mudando rapidamente. Mais da metade de todas as pesquisas de produtos na internet são oriundas da Amazon, disseram os lobistas do Google.

E o Facebook lembrou que há forte competição no setor de mídias sociais, citando como exemplo o aplicativo chinês TikTok.

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